A minha experiência de parto
Esta é a primeira vez, depois de três anos e meio do meu filho ter nascido, que me sinto (mais ou menos) à vontade para contar a minha experiência de parto.
Quando decidi que queria ser mãe, sabia à partida que teria apenas um, mas a minha experiência tanto da gravidez, como do parto e puerpério, apenas veio sublinhar essa escolha.
(Aviso que o conteúdo aqui descrito é extremamente negativo, mas foi a realidade que vivi)
Tive uma gravidez chata, em que só me apetecia dormir, estar parada e comer. Como os momentos com energia duravam pouco, cada saída era muito bem pensada. Além disso, não dava três passos sem ter vontade de ir à casa de banho. Des-con-for-tá-vel!😩 Foi assim a gravidez toda.
Infelizmente, também não tive o prazer de me deparar com pessoas normais nas filas de supermercado, serviços públicos, entre outros. Sim, senhora que espera pelo cartão de cidadão, eu sei que gravidez não é doença mas eu sinto-me como se nunca tivesse estado tão incapaz fisicamente! Eu, que desde sempre me preocupei em seguir uma alimentação saudável e praticava regularmente exercício físico, dei por mim num corpo completamente diferente, fraco e pesado.
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No dia 9 de Novembro de 2019, dei por mim a acordar várias vezes um pouco mais cedo que a hora normal de despertar. Não tinha tido qualquer outro sinal de que iria entrar em trabalho de parto, mas apercebi-me que acordava de 10 em 10 minutos e estranhei. Levei um tempo nisto, até que senti as primeiras contrações ao mesmo tempo que o meu corpo me exigia acordar. Terror. Disse logo ao pai para não ir trabalhar naquele dia porque tinha chegado a hora.
Levantei-me, fui tomar banho. Berrava cada vez que experienciava uma contração; a sensação é avassaladora. Quando saímos de casa já eram perto das 10h da manhã, ainda passamos pelo McDonalds porque sabia que assim que chegasse ao hospital já não me iam deixar comer nada, por isso pedi o habitual Mc Veggie (saudades, volta) e lá seguimos para o hospital de Faro, que ficava a 9km.
À entrada das urgências já nem me aguentava em pé, andava com extrema dificuldade, estava a dilatar muito depressa, por isso, mandaram-me logo para um quarto. Já lá estava outra mãe, com quem mal tive tempo de falar e, sem sequer avisar, cheia de dores e confusa com tudo, entra uma enfermeira pelo quarto com uma tesoura comprida e rebenta-me as águas. Dores insuportáveis. E o desplante da pessoa ainda de me dizer para não gritar...
Entretanto, fui transferida para a sala de partos, onde me deram a epidural. Mais uma tortura. Parecia um choque elétrico a passar pela espinha; um rio gelado a atravessar-me o âmago. Por momentos, parecia que a dor das contrações tinha melhorado, mas depois voltei a sentir tudo no resto do corpo e perdi a sensibilidade total numa só perna. Por vezes, pediam-me para ajustar a posição do corpo e eu explicava que não me conseguia mexer e tinha o pai de ajudar.
Na verdade, eu sentia que a posição mais confortável para mim naquele momento seria de pé. Estar deitada aumentava a intensidade da dor e a dificuldade de fazer qualquer tipo de força - que eu já não sentia capacidade para fazer. Mas não nos dão outra opção. É fazer tudo o que nos mandam e pronto!
Não tenho noção nenhuma das horas a passar, mas o meu filho continuava sem nascer. Apesar de ser a primeira vez eu sentia que estava a demorar demasiado tempo. E, entretanto, no meio da confusão de pessoas a entrar e sair, entra uma mulher que me faz a manobra de Kristeller. Fez uma vez e percebi imediatamente que não conseguia respirar. Pedi «por favor, por favor não me faça isso que não respiro». Ainda o fez novamente. Supliquei que parasse. Só depois parou.
Apesar de ter explicado que não me conseguia mexer, pediram ao pai do meu filhote que se afastasse. Teve de ficar sentado num sofá a ver. Porquê? Eu não tinha direito a uma mão a dar-me forças naquele momento? Não tive.
Com 39 semanas e 4 dias, nasceu o meu filhote Romeu. Eram 19h56. Passei o dia inteiro em trabalho de parto. Informaram-me, no fim, que tiveram de usar ventosas porque ele tinha realmente uma cabeça grande. O bebé veio com uma marca enorme, roxa, da ventosa. Fui também informada de que tinha rasgado e por isso tinha levado 3 pontos (mais tarde a enfermeira que me acompanhou disse que afinal foram 5). Mas rasguei ou fizeram-me uma episiotomia? E será que não deveriam, em determinado ponto do parto, ter considerado avançar para uma cesariana, tendo em conta que eu já não conseguia fazer força há muito tempo? Será que me foi omitido que o meu filho esteve em dificuldade?
Fiquei com a sensação de que só me queriam despachar. Não se importaram em avisar-me dos procedimentos que iam fazer e, por diversas vezes me mandaram calar. Não houve respeito da parte deles. Odiei do início ao fim.
Comecei também a achar que quando uma mãe diz que os médicos a trataram muito bem no parto e que foi tudo muito fácil, o que aconteceu é que foi tudo muito fácil mesmo. E só por isso terminam essa experiência com a sensação de que foram levadas em consideração pela equipa hospitalar.
Dá que pensar...
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