Eu sou a minha poesia: Antologia Pessoal de Maria Teresa Horta


Título: Eu sou a minha poesia
Autor: Maria Teresa Horta
Género: Poesia
Ano: 2019
Avaliação: 3 em 5

Estou a tentar ler mais poesia, pelo simples facto de ter percebido que não é o género mais comprado e adorado, em Portugal. Por isso, com a notícia da morte de uma poetisa portuguesa, decidi aproveitar e ler uma das suas obras mais aclamadas.

Para quem, tal como eu, desconhecia o passado da Maria Horta, é importante destacar que a sua escrita foi duramente criticada, chegando mesmo a estar presa devido às leis de censura da sua época.

Se pudesse explicar com um desenho o que este livro significou para mim, faria um gráfico que começa em baixo, vai até acima, devagar, depois volta para baixo, sempre na esperança de regressar ao topo. Identifiquei-me com poucos poemas. Daí a minha avaliação. Penso que esperava demais, tendo em conta os testemunhos que li no Goodreads, de facto tinha intenção de ser arrebatada. Simplesmente não faz o meu género.


Deixo aqui registados alguns dos meus preferidos:

"MULHERES

Há nas mulheres
o sono duma ausência
como uma faca aberta
sobre os ombros

à qual a carne adere
impaciente
cicatrizando já durante
o sonho

E há também
o estar impaciente
calarmos impacientes
todo o corpo

Sorrir não devagar
claramente
lugares inventados sobre
os olhos

E há ainda em nós
o estar presente
diariamente calmas
e seguras

mulheres demasiado
serenamente
nas casas, nas camas
e nas ruas

E como toda esta herança
não chegasse
como se ainda quiséssemos aumentá-la
fechamos os braços de cansaço
como se da vida
chegasse o inventá-la

E se do sono
nos vem o esquecimento
quantas insónias
cansamos por de dentro

POEMA SOBRE A RECUSA

Como é possível perder-te
sem nunca te ter achado

nem na polpa dos meus
dedos
se ter formado o afago

Sem termos sido a cidade
nem termos rasgado pedras

sem descobrirmos a cor
nem o interior da erva

Como é possível perder-te
sem nunca te ter achado

Minha raiva de ternura
meu ódio de conhecer-te
minha alegria profunda

PACTO

Temos um pacto
com aquilo que
voa

- as aves
da poesia

- os anjos
do sexo

- o orgasmo
dos sonhos

Não há nada
que a nossa voz não abra

Nós somos as bruxas
da palavra"

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